Primeiramente devo confessar que tinha um preconceito com ... E o Vento Levou. Não era bem um preconceito: era uma birra! COMO ASSIM um filme terrivelmente chato como esse poderia ter tirado o Oscar de Melhor Filme do MELHOR FILME DE TODOS OS TEMPOS??? Sou um apaixonado por O Mágico de Oz e para mim tal comparação era inconcebível. Isso quando vi os dois filmes, ainda na minha infância. Portanto quando chegou a hora de escrever sobre o vencedor de 1939, meu coração deu aquela apertada e quase arranjei alguma desculpa esfarrapada para falar de Oz ao invés do Vento. Ainda bem que me propus a ver todos os filmes antes de escrever, mesmo os que já assisti antes. Ainda bem.
Como não amar Scarlett O'Hara? COMO?
Vamos do começo. ... E o vento levou conta a história de vida de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), uma garota mimada do sul dos Estados Unidos que está acostumada a ser paparicada por todos e ser tratada como um bibelô de cristal. Todos fazem suas vontades e o que ela mais gosta é ver os rapazes brigando por ela, disputando sua atenção. Scarlett é apaixonada pelo filho do fazendeiro vizinho, Ashley Wilkes (Leslie Howard). Quando durante uma festa ela descobre que ele irá se casar com uma prima, Melanie Hamilton (Olivia de Havilland), Scarlett não consegue esconder sua fúria e, achando encontrar-se sozinha, atira objetos e fala coisas terríveis de Ashley. Porém, ela não está sozinha: Rhett Butler (Clark Gable), um homem neutro nos assuntos políticos entre os estados do norte e do sul, está escondido e acaba ouvindo o segredo de Scarlett, deixando a moça bastante brava. Percebe-se que Rhett se apaixona de cara por ela, mas ela só tem olhos para Ashley. Para fazer ciúmes para Ashley, ela decide se casar com o irmão de Melanie, Charles (Rand Brooks).
Tudo muda quando a Guerra Civil Americana começa e (quase) todos os homens decidem se alistar no Exército. Rhett não se alista e acaba, durante a guerra, servindo de apoio tanto a um lado quanto ao outro, nunca se comprometendo. Charles morre na Guerra e Scarlett passa a viver em Atlanta com Melanie, à espera da volta de Ashley. Os tempos de guerra trazer pobreza, fome e terror para Atlanta e Scarlett começa a servir como enfermeira no exército do Sul. Muitas vezes ela precisa da ajuda de Rhett, e os dois acabam se envolvendo em um jogo de amor e ódio. Cansada de tanto sofrimento, ela decide voltar para sua bela fazenda, Tara, somente para descobrir que nunca mais seu mundo seria o mesmo.
Com cenas épicas e magníficas (como a da famosa frase "Jamais sentirei fome novamente", ... E o Vento Levou é um drama épico que nos traz a figura perfeita da anti-heroína, uma vez que ao mesmo tempo torcemos para a felicidade de Scarlett, ficamos impressionados com a falta de caráter e bom senso da moça. Uma personagem HUMANA, que erra tentando acertar, que como todos nós tem seu lado egoísta. É muito fácil nos identificarmos com ela. Creio eu que este é um dos motivos para ela ser tão famosa e tão amada pelos fãs do cinema.
... E o Vento Levou é uma adaptação do romance homônimo de Margaret Mitchell, que vendeu os direitos dele ao produtor David O. Selznick por 50.000 dólares. Selznick imediatamente começou a trabalhar com os roteiristas e começou uma verdadeira histeria em torno do filme. Os fãs do livro começaram a especular quem seriam os protagonistas e o produtor começou a escalação. Clark Gable não queria participar do longa, e foi convencido com um bônus em dinheiro que daria a ele condições de separar-se de sua segunda mulher.
Para a disputa pelo papel de O'Hara, Bette Davis, Katharine Hepburn, Jean Arthur, Lucille Ball, Tallulah Bankhead, Joan Crawford e Olivia de Havilland foram consideradas para o papel, entre outras 1400 atrizes. Um concurso chamado "Em busca de Scarlett O'Hara" foi realizado pelo produtor, sem sucesso. Dizem que foi apenas um artifício do produtor para dar publicidade a um filme que nem tinha arrecadado recursos ainda. A história mais famosa que conta como Leigh foi escolhida é que ela foi apresentada ao produtor por seu irmão, já durante a gravação da primeira cena do filme (a sequencia do incêndio em Atlanta). Myron Selznick teria dito ao irmão "David, conheça sua Scarlett O'Hara".
Assim como seus personagens no filme, Vivien e Clark não se davam bem na vida real. Ele achava um absurdo uma inglesa no papel de uma americana sulista e ela detestava o hálito dele, entre outras picuinhas.
A ansiedade do público em torno do filme era enorme, tanto que para a pré-estreia, o produtor avisou ao dono do cinema onde seria exibido o filme que as pessoas seriam convidadas a assistirem a uma pré-estreia sem saber de que filme se tratava, sendo a sala selada e proibidos os telefonemas. O dono concordou, com a condição de que poderia ligar para sua esposa e mandá-la ir imediatamente para o cinema, sem mencionar o filme que seria exibido. Feito isto e trancada a sala, a platéia gritava exultante quando o filme começou a ser exibido.
O longa foi um dos mais indicados ao Oscar de todos os tempos, com 13 indicações. Levou oito: Melhor Filme, Melhor Diretor para Victor Fleming (coincidentemente o mesmo direto de O Mágico de Oz), Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Montagem e seu prêmio mais controverso, Melhor Atriz Coadjuvante. Hattie McDaniel foi a primeira atriz afro descendente a ser indicada ao Oscar, e a ganhá-lo. Porém, ela não pode ir receber o prêmio devido às leis racistas da época. Clark Gable ficou tão indignado da colega não poder ir à premiação que quase desistiu de ir também, sendo convencido pela própria a não faltar à entrega dos prêmios.
... E o Vento Levou é um daqueles filmes que chamamos de Clássico dos Clássicos, um daqueles que nos remete à época de ouro dos grandes filmes, das disputas entre os estúdios e os atores. Um filme longo (quase 4 horas de duração), mas nunca cansativo. Um Clássico com C maiúsculo, como poucos.