terça-feira, 17 de setembro de 2013

Farrapo Humano (The Lost Weekend) - 1945

Um filme diferente dos que o mundo estava acostumado a ver até então. Tão forte e impactante que causou frisson tanto na indústria cinematográfica quanto na indústria de bebidas alcoólicas. Esse é Farrapo Humano, de Billy Wilder, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1946.

Ray Milland é Don Birnam, escritor que está para viajar com o irmão para um fim de semana prolongado no campo. Enquanto arruma as malas, seu único pensamento é a garrafa pendurada do lado de fora de sua janela. Don é um alcoólatra em recuperação, que há duas semanas (segundo o que pensa seu irmão, Wick (Phillip Terry)) não coloca uma gota na boca.

Sua noiva, Helen (Jane Wyman), chega para despedir-se e diz a Don que tirou o dia de folga e irá a um concerto sozinha. Querendo se livrar dos dois, Don acaba convencendo os dois a irem juntos ao concerto e deixarem para pegar o trem mais tarde. Desconfiado, Wick encontra a garrafa pendurada e joga seu líquido no ralo. Sozinho no apartamento, Don vasculha cada um de seus esconderijos, sem encontrar nada.

A diarista toca a campainha, e dá a Don a ideia que mudaria os planos de seu fim de semana: ela o diz onde o irmão costuma deixar o dinheiro da diária. Dispensando-a, o escritor sai em busca da única coisa que o satisfaz verdadeiramente: bebida. No bar, já bastante alterado, ele conta ao barman como será seu próximo livro: A Garrafa, um livro baseado em sua própria história, na história de como conheceu Helen.

Depois de seu irmão desistir dele, Don vai contar apenas com a boa vontade e o amor de sua noiva para ajudá-lo a superar o alcoolismo e seu bloqueio criativo. Mas antes, ele chegará ao fundo do poço, passando pelo roubo, pela piedade e pela loucura, sugado pela sua fraqueza e seu vício.

Farrapo Humano tem um enredo forte e bastante esclarecedor sobre o que se passa na mente de um viciado, seja ele em álcool, drogas, remédios, o que for. O personagem de Milland passa por todo tipo de situação constrangedora, perdendo muitas vezes não apenas a noção de moral como a noção de realidade. Porém, para ele, tudo é justificado pelo simples fato de não conseguir resistir ao vício.

As cenas muito bem dirigidas, às vezes beirando o desespero, renderam a Wilder o Oscar de Melhor Direção, e a Ray Milland o prêmio de Melhor Ator. Os roteiristas (Charles Brackett e Billy Wilder) ainda levaram o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, uma vez que o filme é baseado em um best seller. No livro, porém, Don é atormentado também por um trauma da adolescência, uma experiência homossexual, excluída do roteiro do filme.

Como eu disse no começo, a indústria de bebidas alcoólicas ficou preocupada com as repercussões do filme, e teriam oferecido à Paramount 5 milhões de dólares para que o filme não fosse lançado. Wilder declarou tempos depois que se tivessem oferecido a ele, ele teria aceitado.

Um filme forte, que virou citação em muitos outros filmes e séries, Farrapo Humano é um dos melhores filmes que eu já vi para esse projeto. Sem dúvida assisti-lo é um pré-requisito para qualquer cinéfilo.


sábado, 7 de setembro de 2013

O Bom Pastor (Going My Way) - 1944

O mundo ainda estava em guerra quando o longa da ParamountO Bom Pastor (Going My Way), foi lançado, e isso explica como um musical cheio de ternura e amizade fez tanto sucesso. No lançamento, foi exibido em 65 instalações militares ao redor do mundo, principalmente na Europa. Concorreu em dez categorias no Oscar, levando sete.

O filme foi o primeiro de muitos musicais de Bing Crosby, que seria considerado o ator que mais rendia aos estúdios durante todos os anos da década de 1940. No filme, Crosby interpreta o Padre O'Malley, um jovem padre que é enviado pelo bispo para tomar conta da paróquia e substituir o Padre Fitzgibbon (Barry Fitzgerald). Porém, para não chatea-lo, ele prefere fingir que veio apenas auxilia-lo, e não tomar seu lugar.

Porém, no dia-a-dia, a forma de lidar com os problemas da paróquia acaba mostrando como os dois padres tem visões de mundo diferentes, e o melhor exemplo disso é quando Padre Fitzgibbon quer dar uma boa bronca nos meninos arruaceiros do bairro e obriga-los a assistir à missa, enquanto Padre O'Malley percebe que o que lhes falta é algo pra fazer, e acaba criando um coral com os meninos.

Porém a paróquia tem muitas dívidas, que nenhum dos dois padres conseguem pagar. Até que O'Malley tem uma ideia: tentar um contrato para o coral de meninos com uma gravadora para que possam sanar as dívidas. Porém um incêndio na igreja vai atrasar os planos do Padre e unir os dois párocos em uma bela amizade.

Crosby canta cinco canções durante o filme, incluindo a vencedora do Oscar de Melhor Canção Original, "Swinging on a star". Além deste prêmio e o de Melhor Filme, O filme ainda ganhou Melhor Diretor para Leo McCarey, Melhor Roteiro, Melhor Estória Original (hoje os dois prêmios são fundidos em um só: Melhor Roteiro Original).

Um fato interessante marca as indicações na área de atuação. Barry Fitzgerald foi indicado em DUAS categorias, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, fato único nas premiações até hoje. Ele levou para casa a estatueta de Coadjuvante, enquanto seu companheiro de filme, Crosby, venceu como Melhor Ator.

O filme retrata uma situação que é atual até hoje, o choque de gerações na Igreja Católica. Presenciamos há algumas semanas declarações do Papa Francisco que indicam que talvez a Igreja esteja mais maleável em relação a assuntos que são tão atuais como era um casal vivendo junto sem casar na época do filme. Enquanto isso, alguns "pastores" da Igreja permanecem com suas convicções atrasadas, afastando as pessoas cada vez mais de seus bancos. Talvez seria preciso "incendiar" a Igreja como no filme, para então todos perceberem que é a união dos fiéis que faz a força de uma Igreja.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Casablanca (Casablanca) - 1943

Falar de Casablanca é tão difícil quanto falar sobre ... E o Vento Levou. Quando cheguei no último, parei o blog por meses por não saber por onde começar. São filmes tão grandes e tão famosos que eu penso: quem sou eu pra falar qualquer coisa sobre um filme deste tamanho? Bem, como não quero parar novamente com as postagens, vou tentar fazer o melhor possível passando pra cá minhas sinceras impressões.

O grande sucesso de Casablanca se deu com certeza pela química entre os atores principais: Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Apesar de na vida real os dois mal se falarem e estarem mais interessados em outros filmes que participariam, em ação os dois são um dos casais mais encantadores do cinema. A história dos dois, muito romântica, e os diálogos inesquecíveis só aumentaram o glamour do filme.

Humphrey é Rick Blaine, o dono de um bar em Casablanca, uma cidade do Marrocos considerada uma passagem para longe da II Guerra Mundial. O bar de Rick é ainda mais neutro, recebendo tanto aliados quanto alemães, sempre mantendo o tratamento de ambos igual. Rick tem um fiel companheiro, Sam (Dooley Wilson), o pianista do bar e único amigo de Blaine. Rick tem um passado misterioso, que inclui uma expatriação dos Estados Unidos (pra onde ele não pode voltar de jeito nenhum) e um grande amor, que o leva a pedir para que Sam nunca toque "As Time Goes By", uma canção terrivelmente dolorosa para ele.

Uma noite, Rick recebe no bar um cliente, Ugarte (Peter Lorre), que possui duas cartas de trânsito, um tipo de passe-livre para qualquer pessoa sair de Casablanca em direção à Lisboa, também neutra, e de lá, para os Estados Unidos. Ele as conseguiu matando dois soldados alemães, e a polícia chega para prende-lo. Ele então entrega as cartas a Rick, para que ele as guarde, mas acaba morrendo. Rick tem então duas passagens para sair de Casablanca e fugir da guerra. 

Ele então ouve Sam tocar a canção proibida. Pronto para brigar com o pianista, ele acaba desarmado quando vê Ilsa Lund (Ingrid Bergman). Seu amor do passado estava de volta e com o marido, Victor Laszlo (Paul Henreid), ao seu lado. Ele é um dos mais procurados rebeldes contra os nazistas, e só Rick com suas cartas de trânsito poderiam ajudá-lo a sair dali em segurança. A decisão de Rick em relação ao amor de sua vida é outro ponto-chave do sucesso de Casablanca, o final inesperado.

Humphrey Bogart já tinha uma certa fama quando filmou Casablanca, mas depois disso sua vida mudou. O que era para ser apenas um filme secundário, que ele gostaria que acabasse logo, tornou-se o maior sucesso de sua carreira. O jeito cínico e cafajeste de Rick ficou eternizado e com certeza serviu de base para muitos anti-heróis do cinema americano. O papel lhe rendeu a indicação de ao Oscar de Melhor Ator.

Ingrid Bergman também viu sua vida transformada depois de Casablanca. Suas apostas eram para Por Quem os Sinos Dobram, que iria filmar logo em seguida. Testemunhas da época contavam que constantemente ela era vista nos intervalos ligando para seu agente para saber detalhes sobre sua contratação para "Por Quem...". Por ser mais alta que Bogart, ele teve que usar plataformas para atuar quando estava ao seu lado. Por incrível que pareça, este foi o único filme no qual os dois atuaram juntos.

A canção que ao ser tocada traz logo Casablanca às nossas mentes, "As Time Goes By", quase não ficou na versão final do filme. O responsável pelas músicas do filme, Max Steiner, queria escrever ele mesmo a música tema do casal, mas as cenas com a música já haviam sido gravadas e Bergman já estava gravando Por Quem os Sinos Dobram com cabelos mais curtos na época, o que acabou forçando-o a usar a canção. Por não ser uma canção original escrita para o filme, ela não pode concorrer ao Oscar.

O roteiro foi outro ponto difícil pelo qual os produtores tiveram que passar. Ele era baseado em uma peça que nunca havia sido produzida, "Everybody comes to Rick's", e foi reescrito muitas vezes. Casey Robinson, que reescreveu as cenas românticas, não quis ser creditado, e acabou assim perdendo o Oscar de sua vida. Os responsáveis pelo roteiro creditados, os irmãos Julius e Philip Epstein, são os únicos gêmeos a ganharem o prêmio, no caso por Melhor Roteiro.

A direção de Michael Curtiz também foi premiada com o Oscar, e com toda razão. A maneira como ele lidou com todos os imprevistos e contratempos do filme já valeriam a estatueta, mas sua técnica era ainda mais merecedora. Nas cenas finais, no aeroporto, Curtiz utilizou uma técnica que só seria copiada anos depois. Como estavam em guerra, as filmagens noturnas em aeroportos era proibidas. Eles filmaram em uma pista pequena, mas colocaram um avião de madeira pequeno, com anões trabalhando ao redor dele, para dar a impressão de ser uma pista maior. Fantástico, não?

Casablanca tem muitos motivos para ser o filme imortal que é, mas é a soma de todos esses ingredientes que o fazem inesquecível!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Rosa de Esperança (Mrs Miniver) - 1942

O mundo estava tomado pela Segunda Guerra Mundial em 1939, e o The Times publicou uma série de colunas de Jan Struther sobre uma família inglesa no meio do fogo cruzado. O diretor William Wyler foi contratado pela Metro-Goldwyn-Mayer para levar a adaptação das colunas para o cinema, no que se tornaria um dos filmes mais importantes da época e mais inspiradores de todos os tempos, de acordo com a American Film Institute.

Greer Garson é a Sra Kay Miniver, a mãe de família que cuida para que as coisas não mudem tanto na família durante a guerra. Seu filho Vin (Richard Ney), ao retornar para casa da faculdade, se apaixona por Carol Beldon (Teresa Wright), filha de uma família muito tradicional. Depois de pedi-la em casamento, ele se alista na Royal Air Force e se prepara para ir para a guerra. Sua base é próxima à casa dos Miniver, e ele combina com a família um sinal: sempre que passar sobre sua casa, irá desligar os motores do avião para que saibam que ele retornou a salvo das missões.

Quando sabe que sua filha está apaixonada, Lady Beldon (Dame May Whitty) vai até a casa da Sra Miniver para tentar dissuadir a família do rapaz do provável casamento, alegando que a filha seja muito nova. Porém, a Sra Miniver a lembra de que ela também era muito jovem quando se casou, e que ela havia se casado por amor, assim como seus filhos, dissuadindo Lady Beldon de seu propósito.

O marido da Sra Miniver, Clem (Walter Pidgeon), também sai para a guerra, deixando a esposa sozinha com as crianças. Um dia, a Sra Miniver está passeando perto do rio quando encontra em seu quintal um soldado alemão, ferido e desorientado. Ela ajuda o soldado, leva-o para dentro de casa e gentilmente o desarma e o alimenta, para depois chamar as autoridades. Clem volta pra casa e Vin se casa com Carol.

A Sra Miniver conhece também o Sr Ballard, um senhor que cultiva rosas para um concurso regional. Ele quer que sua rosa seja a vencedora, e muito admirado com a simpatia da Sra Miniver, ele decide dar o nome dela à sua rosa. Porém a rosa vai concorrer com as famosas rosas de Lady Beldon, vencedoras em todos os anos anteriores. A esperança que a rosa representa será testada quando as duas Sras Miniver enfrentarem o pior momento de suas vidas.

Apesar de não ter considerado o filme grande coisa, a atuação das duas Sras Miniver (Greer Garson e Teresa Wright) é muito boa. Greer era uma das maiores atrizes da sua época, tendo sido indicada cinco vezes consecutivas ao Oscar de Melhor Atriz (recorde ainda não quebrado). Ela fez o filme apenas por questões contratuais com a MGM, mas foi o único papel que concedeu a ela a estatueta dourada. Seu discurso de aceitação do prêmio também se tornou um recorde: durou 5 minutos e meio, e fez com que a Academia criasse uma regra de tempo para os discursos de aceitação. Ela se casou logo após as filmagens com Richard Ney, seu filho no filme.

William Wyler nunca escondeu que fez o filme com segundas intenções. Apesar de nascido na Alemanha, ele queria que os Estados Unidos se juntassem aos aliados contra os nazistas. Após terminado o filme, ele se alistou nas forças armadas americanas e não estava presente quando ganhou seu Oscar como Melhor Diretor. Ao voltar da guerra, ele declarou o quão superficialmente seu filme retratou uma guerra tão terrível. O discurso do vigário, na cena final do filme, foi transmitida pelo programa do governo americano "Voice of America" por ordem do presidente Roosevelt, foi impresso nas revistas Time e Look e enviado impresso para a Europa como propaganda anti-guerra.

Teresa Wright também levou a estatueta por Melhor Atriz Coadjuvante. O filme ainda ganhou nas categorias Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia em Preto-e-Branco.

OBS: Quero deixar claro que este é um post também feito apenas por questões contratuais (meu contrato pessoal com este blog e o seu desafio). Não é um filme que eu veria novamente, pra ser sincero.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Como Era Verde o Meu Vale (How Green Was My Valley) - 1941

Como Era Verde o Meu Vale ficou para sempre marcado na história do cinema como o filme que tirou o Oscar de Melhor Filme de Cidadão Kane. Um dos filmes mais aclamados de todos os tempos (alguns julgam ser o melhor de todos), Cidadão Kane perdeu a estatueta para este clássico do diretor John Ford, que dirigiu a adaptação (mais uma vez) de um livro de muito sucesso escrito por Richard Llewellyn.

Além desse fato marcante, no entanto, não há muito do que se lembrar deste longa. Projetado para ser um épico de 4 horas e rivalizar com ... E o Vento Levou, o filme passa longe de ser tão interessante quanto seu suposto "rival".

A história se passa no País de Gales, no início do Século XX, e é narrada pelo protagonista já aos 60 anos. Huw Morgan (Roddy McDowall) é um garoto que vive em uma pequena cidade, onde é instalada uma mineradora de carvão. Seu pai (Donald Crisp) e seus quatro irmãos mais velhos trabalham na mina, enquanto a mãe (Sara Allgood) e a irmã Angharad (Maureen O'Hara) cuidam da casa.

Tudo vai bem até que a Mineradora começa a diminuir os salários dos trabalhadores, levando-os a uma greve. O pai de Huw se recusa a aderir, o que leva os irmãos mais velhos a sairem de casa, para o desgosto do pai. Huw ve o clima em casa melhorar quando aparece em sua casa a jovem Bronwyn (Anna Lee). Encantado pela moça, ele tem o coração partido quando sabe que ela veio para noivar e casar-se com seu irmão mais velho.

No casamento do irmão, Angharad conhece o novo pastor da cidade, Mr Gruffydd (Walter Pidgeon). Ambos se apaixonam, porém o pastor não consegue retribuir ao amor de Angharad pois sabe que ela levaria uma vida de necessidades ao seu lado. Ela não vê alternativa a não ser casar-se com o filho do dono da Mineradora, e se mudam para outra cidade.

Aos poucos, o jovem Huw começa a perceber que sua família já não é mais a mesma, sua vida não é mais a mesma e seu vale não é mais tão verde como era antes, agora manchado pela fuligem do carvão.  Sua ingenuidade e inocência se vão junto com o verde do vale que ele tanto ama.

O menino Roddy McDowall não deixa nada a desejar a seus colegas de trabalho no quesito interpretação. Ele e Sara Allgood no papel da mãe (indicada a Melhor Atriz Coadjuvante) são o melhor do filme, que apesar de ser meio chatinho, é um clássico, não é mesmo?

Alguns fatos interessantes sobre o filme: ele deveria ter sido dirigido por William Wyler, conhecido por ser perfeccionista. Ele seria rodado no próprio País de Gales, mas a Segunda Guerra Mundial acontecia por lá, o que inviabilizou a gravação (obviamente). Um set foi então construído na California, mas Wyler não se contentou ao saber que as flores das locações não eram iguais às flores descritas no País de Gales do livro. Ele decidiu então filma-lo em preto-e-branco, para assim ficar perfeito. Com a saída dele e a contratação de John Ford, o filme acabou ficando sem cor mesmo, para não atrasar a realização do filme, que durou apenas dois meses.

Além do Oscar de Melhor Filme, Como Era Verde o Meu Vale levou ainda as estatuetas de Melhor Diretor, Melhor Fotografia em Preto-e-Branco, Melhor Direção de Arte em Preto-e-Branco e Melhor Ator Coadjuvante para Donald Crisp.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Rebecca, A Mulher Inesquecível (Rebecca) - 1940

 "Nunca houve mulher como Rebecca". A frase, dita por muitos personagens do filme, acaba se tornando uma verdade. Realmente, como Rebecca, nunca houve. Em nenhum outro filme que eu me lembre de ter visto a personagem-título do filme não aparece em cena, NENHUMA vez. É apenas lembrada e idolatrada por (quase) todos os outros personagens, e de certa forma, ainda assim conduz toda a história.

Uma história tão intrigante não poderia ser contada por ninguém menos que Alfred Hitchcock, no seu único longa a levar o Oscar de Melhor Filme. Hitchcock ainda era pouco conhecido quando foi convocado a fazer a adaptação para o cinema de um dos best sellers da época, Rebecca, de Daphne du Maurier. O filme é o primeiro longa-metragem americano do diretor.

Tudo começa em Monte Carlo, quando um garota (Joan Fontaine) está passeando e se depara com uma cena assustadora: um homem olha para um penhasco, como se fosse se atirar dali. Ela grita, o homem acaba dando uma bronca nela e ela sai correndo, voltando para o hotel onde está hospedada como dama de companhia da mal-humorada Edythe Van Hopper (Florence Bates). Logo ela é apresentada pela própria Van Hopper ao rapaz do penhasco, Maximilian "Maxim" de Winter (Laurence Olivier). 

Logo os dois estão apaixonados e a garota se torna a Sra de Winter (durante todo o filme, seu nome não é revelado, sendo apenas chamada de Sra de Winter). Maxim a ela para sua casa na Nova Inglaterra, uma propriedade lendária conhecida como Manderley. Lá, porém a Sra de Winter terá que enfrentar uma sombra que ficará ao redor de si e de seu casamento: Rebecca

Rebecca fora a primeira mulher de Maxim, e havia falecido há alguns anos em um naufrágio. O Sr de Winter sofrera muito com a morte da esposa, que era adorada não só pela família e amigos como também pelos empregados. Entre os empregados está a governanta da casa, a Sra Danvers (Judith Anderson), confidente e amiga íntima de Rebecca, que a idolatra como a uma deusa e vai tornar a vida da nova Sra de Winter um inferno. Porém, aos poucos, a Sra de Winter começa a descobrir alguns fatos da vida de Rebecca que são aparentemente desconhecidos de todos, e uma grande revelação pode colocar o seu casamento dos sonhos em risco para sempre.

Alguns pontos me chamaram muito a atenção para esse filme, que sem dúvida até agora é o meu preferido dentre os que já escrevi (sim, é melhor que ... E o Vento Levou). Primeiro, claro, o suspense magistralmente orquestrado por Hitchcock. A "presença" de Rebecca é tão vívida que eu tive que assistir novamente ao filme para ter certeza de que ela não aparecia em nenhuma cena.

A Sra Danvers de Judith Anderson foi a primeira grande vilã do cinema (e eu tenho uma certa predileção pelas vilãs, cá entre nós) e levou a atriz a ser indicada como Melhor Atriz Coadjuvante. Hitchcock queria que o espectador a visse sob o ponto de vista da heroína do filme, constantemente assustada com as aparições da Sra Danvers. Por isso, quase nunca a vilã é vista andando, parece que ela flutua. Além disso, o diretor a instruiu a tentar não piscar durante as cenas, dando um ar ainda mais assustador a ela. Aproveitando-se da ingenuidade e falta de confiança da personagem de Fontaine, Anderson consegue brilhar nas cenas mais cruéis, roubando as cenas em quase todas elas. O final que Hitchcock deu a ela é diferente do livro, muito mais interessante, e com um dos efeitos especiais mais inovadores para a época.

Joan Fontaine e Laurence Olivier são incríveis juntos e compartilharam também as indicações a Melhor Ator e Melhor Atriz. Apesar de Olivier maltratar a colega durante as filmagens (ele tinha um caso com Vivien Leigh e queria ela no papel de sua esposa), a química entre eles é muito boa, e Fontaine consegue dar muita veracidade ao papel, apesar de ser seu primeiro filme. Hitchcock notou que o modo como Olivier tratava a colega deixava ela bastante tímida e deslocada, exatamente como a personagem dela deveria ser. Sendo assim, ele disse à novata atriz que todos no set odiavam ela, deixando-a ainda mais sensível.

Apenas por ter sido indicado em onze categorias e ser um ganhador de dois Oscars (o outro por Melhor Fotografia em Preto-E-Branco, uma exigência do diretor que queria assim manter o ar sombrio do livro), assistir Rebecca já seria uma obrigação a qualquer cinéfilo. Por se tratar de um Hitchcock, mais ainda! Se ainda não teve a oportunidade de vê-lo e gosta de um bom suspense, não perca tempo! Abaixo tem o link e o vídeo no Youtube! Espero que gostem!





http://www.youtube.com/watch?v=2oLtU9Sj8yo

domingo, 17 de março de 2013

... E o Vento Levou (Gone with the wind) - 1939


Primeiramente devo confessar que tinha um preconceito com ... E o Vento Levou. Não era bem um preconceito: era uma birra! COMO ASSIM um filme terrivelmente chato como esse poderia ter tirado o Oscar de Melhor Filme do MELHOR FILME DE TODOS OS TEMPOS??? Sou um apaixonado por O Mágico de Oz e para mim tal comparação era inconcebível. Isso quando vi os dois filmes, ainda na minha infância. Portanto quando chegou a hora de escrever sobre o vencedor de 1939, meu coração deu aquela apertada e quase arranjei alguma desculpa esfarrapada para falar de Oz ao invés do Vento. Ainda bem que me propus a ver todos os filmes antes de escrever, mesmo os que já assisti antes. Ainda bem.

Como não amar Scarlett O'Hara? COMO?

Vamos do começo. ... E o vento levou conta a história de vida de Scarlett O'Hara (Vivien Leigh), uma garota mimada do sul dos Estados Unidos que está acostumada a ser paparicada por todos e ser tratada como um bibelô de cristal. Todos fazem suas vontades e o que ela mais gosta é ver os rapazes brigando por ela, disputando sua atenção. Scarlett é apaixonada pelo filho do fazendeiro vizinho, Ashley Wilkes (Leslie Howard). Quando durante uma festa ela descobre que ele irá se casar com uma prima, Melanie Hamilton (Olivia de Havilland), Scarlett não consegue esconder sua fúria e, achando encontrar-se sozinha, atira objetos e fala coisas terríveis de Ashley. Porém, ela não está sozinha: Rhett Butler (Clark Gable), um homem neutro nos assuntos políticos entre os estados do norte e do sul, está escondido e acaba ouvindo o segredo de Scarlett, deixando a moça bastante brava. Percebe-se que Rhett se apaixona de cara por ela, mas ela só tem olhos para Ashley. Para fazer ciúmes para Ashley, ela decide se casar com o irmão de Melanie, Charles (Rand Brooks)

Tudo muda quando a Guerra Civil Americana começa e (quase) todos os homens decidem se alistar no Exército. Rhett não se alista e acaba, durante a guerra, servindo de apoio tanto a um lado quanto ao outro, nunca se comprometendo. Charles morre na Guerra e Scarlett passa a viver em Atlanta com Melanie, à espera da volta de Ashley. Os tempos de guerra trazer pobreza, fome e terror para Atlanta e Scarlett começa a servir como enfermeira no exército do Sul. Muitas vezes ela precisa da ajuda de Rhett, e os dois acabam se envolvendo em um jogo de amor e ódio. Cansada de tanto sofrimento, ela decide voltar para sua bela fazenda, Tara, somente para descobrir que nunca mais seu mundo seria o mesmo.

Com cenas épicas e magníficas (como a da famosa frase "Jamais sentirei fome novamente", ... E o Vento Levou é um drama épico que nos traz a figura perfeita da anti-heroína, uma vez que ao mesmo tempo torcemos para a felicidade de Scarlett, ficamos impressionados com a falta de caráter e bom senso da moça. Uma personagem HUMANA, que erra tentando acertar, que como todos nós tem seu lado egoísta. É muito fácil nos identificarmos com ela. Creio eu que este é um dos motivos para ela ser tão famosa e tão amada pelos fãs do cinema.

... E o Vento Levou é uma adaptação do romance homônimo de Margaret Mitchell, que vendeu os direitos dele ao produtor David O. Selznick por 50.000 dólares. Selznick imediatamente começou a trabalhar com os roteiristas e começou uma verdadeira histeria em torno do filme. Os fãs do livro começaram a especular quem seriam os protagonistas e o produtor começou a escalação. Clark Gable não queria participar do longa, e foi convencido com um bônus em dinheiro que daria a ele condições de separar-se de sua segunda mulher. 

Para a disputa pelo papel de O'Hara, Bette Davis, Katharine Hepburn, Jean Arthur, Lucille Ball, Tallulah Bankhead, Joan Crawford e Olivia de Havilland foram consideradas para o papel, entre outras 1400 atrizes. Um concurso chamado "Em busca de Scarlett O'Hara" foi realizado pelo produtor, sem sucesso. Dizem que foi apenas um artifício do produtor para dar publicidade a um filme que nem tinha arrecadado recursos ainda. A história mais famosa que conta como Leigh foi escolhida é que ela foi apresentada ao produtor por seu irmão, já durante a gravação da primeira cena do filme (a sequencia do incêndio em Atlanta). Myron Selznick teria dito ao irmão "David, conheça sua Scarlett O'Hara".

Assim como seus personagens no filme, Vivien e Clark não se davam bem na vida real. Ele achava um absurdo uma inglesa no papel de uma americana sulista e ela detestava o hálito dele, entre outras picuinhas. 

A ansiedade do público em torno do filme era enorme, tanto que para a pré-estreia, o produtor avisou ao dono do cinema onde seria exibido o filme que as pessoas seriam convidadas a assistirem a uma pré-estreia sem saber de que filme se tratava, sendo a sala selada e proibidos os telefonemas. O dono concordou, com a condição de que poderia ligar para sua esposa e mandá-la ir imediatamente para o cinema, sem mencionar o filme que seria exibido. Feito isto e trancada a sala, a platéia gritava exultante quando o filme começou a ser exibido. 

O longa foi um dos mais indicados ao Oscar de todos os tempos, com 13 indicações. Levou oito: Melhor Filme, Melhor Diretor para Victor Fleming (coincidentemente o mesmo direto de O Mágico de Oz), Melhor Atriz, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Montagem e seu prêmio mais controverso, Melhor Atriz Coadjuvante. Hattie McDaniel foi a primeira atriz afro descendente a ser indicada ao Oscar, e a ganhá-lo. Porém, ela não pode ir receber o prêmio devido às leis racistas da época. Clark Gable ficou tão indignado da colega não poder ir à premiação que quase desistiu de ir também, sendo convencido pela própria a não faltar à entrega dos prêmios.

... E o Vento Levou é um daqueles filmes que chamamos de Clássico dos Clássicos, um daqueles que nos remete à época de ouro dos grandes filmes, das disputas entre os estúdios e os atores. Um filme longo (quase 4 horas de duração), mas nunca cansativo. Um Clássico com C maiúsculo, como poucos.