sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Casablanca (Casablanca) - 1943

Falar de Casablanca é tão difícil quanto falar sobre ... E o Vento Levou. Quando cheguei no último, parei o blog por meses por não saber por onde começar. São filmes tão grandes e tão famosos que eu penso: quem sou eu pra falar qualquer coisa sobre um filme deste tamanho? Bem, como não quero parar novamente com as postagens, vou tentar fazer o melhor possível passando pra cá minhas sinceras impressões.

O grande sucesso de Casablanca se deu com certeza pela química entre os atores principais: Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Apesar de na vida real os dois mal se falarem e estarem mais interessados em outros filmes que participariam, em ação os dois são um dos casais mais encantadores do cinema. A história dos dois, muito romântica, e os diálogos inesquecíveis só aumentaram o glamour do filme.

Humphrey é Rick Blaine, o dono de um bar em Casablanca, uma cidade do Marrocos considerada uma passagem para longe da II Guerra Mundial. O bar de Rick é ainda mais neutro, recebendo tanto aliados quanto alemães, sempre mantendo o tratamento de ambos igual. Rick tem um fiel companheiro, Sam (Dooley Wilson), o pianista do bar e único amigo de Blaine. Rick tem um passado misterioso, que inclui uma expatriação dos Estados Unidos (pra onde ele não pode voltar de jeito nenhum) e um grande amor, que o leva a pedir para que Sam nunca toque "As Time Goes By", uma canção terrivelmente dolorosa para ele.

Uma noite, Rick recebe no bar um cliente, Ugarte (Peter Lorre), que possui duas cartas de trânsito, um tipo de passe-livre para qualquer pessoa sair de Casablanca em direção à Lisboa, também neutra, e de lá, para os Estados Unidos. Ele as conseguiu matando dois soldados alemães, e a polícia chega para prende-lo. Ele então entrega as cartas a Rick, para que ele as guarde, mas acaba morrendo. Rick tem então duas passagens para sair de Casablanca e fugir da guerra. 

Ele então ouve Sam tocar a canção proibida. Pronto para brigar com o pianista, ele acaba desarmado quando vê Ilsa Lund (Ingrid Bergman). Seu amor do passado estava de volta e com o marido, Victor Laszlo (Paul Henreid), ao seu lado. Ele é um dos mais procurados rebeldes contra os nazistas, e só Rick com suas cartas de trânsito poderiam ajudá-lo a sair dali em segurança. A decisão de Rick em relação ao amor de sua vida é outro ponto-chave do sucesso de Casablanca, o final inesperado.

Humphrey Bogart já tinha uma certa fama quando filmou Casablanca, mas depois disso sua vida mudou. O que era para ser apenas um filme secundário, que ele gostaria que acabasse logo, tornou-se o maior sucesso de sua carreira. O jeito cínico e cafajeste de Rick ficou eternizado e com certeza serviu de base para muitos anti-heróis do cinema americano. O papel lhe rendeu a indicação de ao Oscar de Melhor Ator.

Ingrid Bergman também viu sua vida transformada depois de Casablanca. Suas apostas eram para Por Quem os Sinos Dobram, que iria filmar logo em seguida. Testemunhas da época contavam que constantemente ela era vista nos intervalos ligando para seu agente para saber detalhes sobre sua contratação para "Por Quem...". Por ser mais alta que Bogart, ele teve que usar plataformas para atuar quando estava ao seu lado. Por incrível que pareça, este foi o único filme no qual os dois atuaram juntos.

A canção que ao ser tocada traz logo Casablanca às nossas mentes, "As Time Goes By", quase não ficou na versão final do filme. O responsável pelas músicas do filme, Max Steiner, queria escrever ele mesmo a música tema do casal, mas as cenas com a música já haviam sido gravadas e Bergman já estava gravando Por Quem os Sinos Dobram com cabelos mais curtos na época, o que acabou forçando-o a usar a canção. Por não ser uma canção original escrita para o filme, ela não pode concorrer ao Oscar.

O roteiro foi outro ponto difícil pelo qual os produtores tiveram que passar. Ele era baseado em uma peça que nunca havia sido produzida, "Everybody comes to Rick's", e foi reescrito muitas vezes. Casey Robinson, que reescreveu as cenas românticas, não quis ser creditado, e acabou assim perdendo o Oscar de sua vida. Os responsáveis pelo roteiro creditados, os irmãos Julius e Philip Epstein, são os únicos gêmeos a ganharem o prêmio, no caso por Melhor Roteiro.

A direção de Michael Curtiz também foi premiada com o Oscar, e com toda razão. A maneira como ele lidou com todos os imprevistos e contratempos do filme já valeriam a estatueta, mas sua técnica era ainda mais merecedora. Nas cenas finais, no aeroporto, Curtiz utilizou uma técnica que só seria copiada anos depois. Como estavam em guerra, as filmagens noturnas em aeroportos era proibidas. Eles filmaram em uma pista pequena, mas colocaram um avião de madeira pequeno, com anões trabalhando ao redor dele, para dar a impressão de ser uma pista maior. Fantástico, não?

Casablanca tem muitos motivos para ser o filme imortal que é, mas é a soma de todos esses ingredientes que o fazem inesquecível!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Rosa de Esperança (Mrs Miniver) - 1942

O mundo estava tomado pela Segunda Guerra Mundial em 1939, e o The Times publicou uma série de colunas de Jan Struther sobre uma família inglesa no meio do fogo cruzado. O diretor William Wyler foi contratado pela Metro-Goldwyn-Mayer para levar a adaptação das colunas para o cinema, no que se tornaria um dos filmes mais importantes da época e mais inspiradores de todos os tempos, de acordo com a American Film Institute.

Greer Garson é a Sra Kay Miniver, a mãe de família que cuida para que as coisas não mudem tanto na família durante a guerra. Seu filho Vin (Richard Ney), ao retornar para casa da faculdade, se apaixona por Carol Beldon (Teresa Wright), filha de uma família muito tradicional. Depois de pedi-la em casamento, ele se alista na Royal Air Force e se prepara para ir para a guerra. Sua base é próxima à casa dos Miniver, e ele combina com a família um sinal: sempre que passar sobre sua casa, irá desligar os motores do avião para que saibam que ele retornou a salvo das missões.

Quando sabe que sua filha está apaixonada, Lady Beldon (Dame May Whitty) vai até a casa da Sra Miniver para tentar dissuadir a família do rapaz do provável casamento, alegando que a filha seja muito nova. Porém, a Sra Miniver a lembra de que ela também era muito jovem quando se casou, e que ela havia se casado por amor, assim como seus filhos, dissuadindo Lady Beldon de seu propósito.

O marido da Sra Miniver, Clem (Walter Pidgeon), também sai para a guerra, deixando a esposa sozinha com as crianças. Um dia, a Sra Miniver está passeando perto do rio quando encontra em seu quintal um soldado alemão, ferido e desorientado. Ela ajuda o soldado, leva-o para dentro de casa e gentilmente o desarma e o alimenta, para depois chamar as autoridades. Clem volta pra casa e Vin se casa com Carol.

A Sra Miniver conhece também o Sr Ballard, um senhor que cultiva rosas para um concurso regional. Ele quer que sua rosa seja a vencedora, e muito admirado com a simpatia da Sra Miniver, ele decide dar o nome dela à sua rosa. Porém a rosa vai concorrer com as famosas rosas de Lady Beldon, vencedoras em todos os anos anteriores. A esperança que a rosa representa será testada quando as duas Sras Miniver enfrentarem o pior momento de suas vidas.

Apesar de não ter considerado o filme grande coisa, a atuação das duas Sras Miniver (Greer Garson e Teresa Wright) é muito boa. Greer era uma das maiores atrizes da sua época, tendo sido indicada cinco vezes consecutivas ao Oscar de Melhor Atriz (recorde ainda não quebrado). Ela fez o filme apenas por questões contratuais com a MGM, mas foi o único papel que concedeu a ela a estatueta dourada. Seu discurso de aceitação do prêmio também se tornou um recorde: durou 5 minutos e meio, e fez com que a Academia criasse uma regra de tempo para os discursos de aceitação. Ela se casou logo após as filmagens com Richard Ney, seu filho no filme.

William Wyler nunca escondeu que fez o filme com segundas intenções. Apesar de nascido na Alemanha, ele queria que os Estados Unidos se juntassem aos aliados contra os nazistas. Após terminado o filme, ele se alistou nas forças armadas americanas e não estava presente quando ganhou seu Oscar como Melhor Diretor. Ao voltar da guerra, ele declarou o quão superficialmente seu filme retratou uma guerra tão terrível. O discurso do vigário, na cena final do filme, foi transmitida pelo programa do governo americano "Voice of America" por ordem do presidente Roosevelt, foi impresso nas revistas Time e Look e enviado impresso para a Europa como propaganda anti-guerra.

Teresa Wright também levou a estatueta por Melhor Atriz Coadjuvante. O filme ainda ganhou nas categorias Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia em Preto-e-Branco.

OBS: Quero deixar claro que este é um post também feito apenas por questões contratuais (meu contrato pessoal com este blog e o seu desafio). Não é um filme que eu veria novamente, pra ser sincero.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Como Era Verde o Meu Vale (How Green Was My Valley) - 1941

Como Era Verde o Meu Vale ficou para sempre marcado na história do cinema como o filme que tirou o Oscar de Melhor Filme de Cidadão Kane. Um dos filmes mais aclamados de todos os tempos (alguns julgam ser o melhor de todos), Cidadão Kane perdeu a estatueta para este clássico do diretor John Ford, que dirigiu a adaptação (mais uma vez) de um livro de muito sucesso escrito por Richard Llewellyn.

Além desse fato marcante, no entanto, não há muito do que se lembrar deste longa. Projetado para ser um épico de 4 horas e rivalizar com ... E o Vento Levou, o filme passa longe de ser tão interessante quanto seu suposto "rival".

A história se passa no País de Gales, no início do Século XX, e é narrada pelo protagonista já aos 60 anos. Huw Morgan (Roddy McDowall) é um garoto que vive em uma pequena cidade, onde é instalada uma mineradora de carvão. Seu pai (Donald Crisp) e seus quatro irmãos mais velhos trabalham na mina, enquanto a mãe (Sara Allgood) e a irmã Angharad (Maureen O'Hara) cuidam da casa.

Tudo vai bem até que a Mineradora começa a diminuir os salários dos trabalhadores, levando-os a uma greve. O pai de Huw se recusa a aderir, o que leva os irmãos mais velhos a sairem de casa, para o desgosto do pai. Huw ve o clima em casa melhorar quando aparece em sua casa a jovem Bronwyn (Anna Lee). Encantado pela moça, ele tem o coração partido quando sabe que ela veio para noivar e casar-se com seu irmão mais velho.

No casamento do irmão, Angharad conhece o novo pastor da cidade, Mr Gruffydd (Walter Pidgeon). Ambos se apaixonam, porém o pastor não consegue retribuir ao amor de Angharad pois sabe que ela levaria uma vida de necessidades ao seu lado. Ela não vê alternativa a não ser casar-se com o filho do dono da Mineradora, e se mudam para outra cidade.

Aos poucos, o jovem Huw começa a perceber que sua família já não é mais a mesma, sua vida não é mais a mesma e seu vale não é mais tão verde como era antes, agora manchado pela fuligem do carvão.  Sua ingenuidade e inocência se vão junto com o verde do vale que ele tanto ama.

O menino Roddy McDowall não deixa nada a desejar a seus colegas de trabalho no quesito interpretação. Ele e Sara Allgood no papel da mãe (indicada a Melhor Atriz Coadjuvante) são o melhor do filme, que apesar de ser meio chatinho, é um clássico, não é mesmo?

Alguns fatos interessantes sobre o filme: ele deveria ter sido dirigido por William Wyler, conhecido por ser perfeccionista. Ele seria rodado no próprio País de Gales, mas a Segunda Guerra Mundial acontecia por lá, o que inviabilizou a gravação (obviamente). Um set foi então construído na California, mas Wyler não se contentou ao saber que as flores das locações não eram iguais às flores descritas no País de Gales do livro. Ele decidiu então filma-lo em preto-e-branco, para assim ficar perfeito. Com a saída dele e a contratação de John Ford, o filme acabou ficando sem cor mesmo, para não atrasar a realização do filme, que durou apenas dois meses.

Além do Oscar de Melhor Filme, Como Era Verde o Meu Vale levou ainda as estatuetas de Melhor Diretor, Melhor Fotografia em Preto-e-Branco, Melhor Direção de Arte em Preto-e-Branco e Melhor Ator Coadjuvante para Donald Crisp.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Rebecca, A Mulher Inesquecível (Rebecca) - 1940

 "Nunca houve mulher como Rebecca". A frase, dita por muitos personagens do filme, acaba se tornando uma verdade. Realmente, como Rebecca, nunca houve. Em nenhum outro filme que eu me lembre de ter visto a personagem-título do filme não aparece em cena, NENHUMA vez. É apenas lembrada e idolatrada por (quase) todos os outros personagens, e de certa forma, ainda assim conduz toda a história.

Uma história tão intrigante não poderia ser contada por ninguém menos que Alfred Hitchcock, no seu único longa a levar o Oscar de Melhor Filme. Hitchcock ainda era pouco conhecido quando foi convocado a fazer a adaptação para o cinema de um dos best sellers da época, Rebecca, de Daphne du Maurier. O filme é o primeiro longa-metragem americano do diretor.

Tudo começa em Monte Carlo, quando um garota (Joan Fontaine) está passeando e se depara com uma cena assustadora: um homem olha para um penhasco, como se fosse se atirar dali. Ela grita, o homem acaba dando uma bronca nela e ela sai correndo, voltando para o hotel onde está hospedada como dama de companhia da mal-humorada Edythe Van Hopper (Florence Bates). Logo ela é apresentada pela própria Van Hopper ao rapaz do penhasco, Maximilian "Maxim" de Winter (Laurence Olivier). 

Logo os dois estão apaixonados e a garota se torna a Sra de Winter (durante todo o filme, seu nome não é revelado, sendo apenas chamada de Sra de Winter). Maxim a ela para sua casa na Nova Inglaterra, uma propriedade lendária conhecida como Manderley. Lá, porém a Sra de Winter terá que enfrentar uma sombra que ficará ao redor de si e de seu casamento: Rebecca

Rebecca fora a primeira mulher de Maxim, e havia falecido há alguns anos em um naufrágio. O Sr de Winter sofrera muito com a morte da esposa, que era adorada não só pela família e amigos como também pelos empregados. Entre os empregados está a governanta da casa, a Sra Danvers (Judith Anderson), confidente e amiga íntima de Rebecca, que a idolatra como a uma deusa e vai tornar a vida da nova Sra de Winter um inferno. Porém, aos poucos, a Sra de Winter começa a descobrir alguns fatos da vida de Rebecca que são aparentemente desconhecidos de todos, e uma grande revelação pode colocar o seu casamento dos sonhos em risco para sempre.

Alguns pontos me chamaram muito a atenção para esse filme, que sem dúvida até agora é o meu preferido dentre os que já escrevi (sim, é melhor que ... E o Vento Levou). Primeiro, claro, o suspense magistralmente orquestrado por Hitchcock. A "presença" de Rebecca é tão vívida que eu tive que assistir novamente ao filme para ter certeza de que ela não aparecia em nenhuma cena.

A Sra Danvers de Judith Anderson foi a primeira grande vilã do cinema (e eu tenho uma certa predileção pelas vilãs, cá entre nós) e levou a atriz a ser indicada como Melhor Atriz Coadjuvante. Hitchcock queria que o espectador a visse sob o ponto de vista da heroína do filme, constantemente assustada com as aparições da Sra Danvers. Por isso, quase nunca a vilã é vista andando, parece que ela flutua. Além disso, o diretor a instruiu a tentar não piscar durante as cenas, dando um ar ainda mais assustador a ela. Aproveitando-se da ingenuidade e falta de confiança da personagem de Fontaine, Anderson consegue brilhar nas cenas mais cruéis, roubando as cenas em quase todas elas. O final que Hitchcock deu a ela é diferente do livro, muito mais interessante, e com um dos efeitos especiais mais inovadores para a época.

Joan Fontaine e Laurence Olivier são incríveis juntos e compartilharam também as indicações a Melhor Ator e Melhor Atriz. Apesar de Olivier maltratar a colega durante as filmagens (ele tinha um caso com Vivien Leigh e queria ela no papel de sua esposa), a química entre eles é muito boa, e Fontaine consegue dar muita veracidade ao papel, apesar de ser seu primeiro filme. Hitchcock notou que o modo como Olivier tratava a colega deixava ela bastante tímida e deslocada, exatamente como a personagem dela deveria ser. Sendo assim, ele disse à novata atriz que todos no set odiavam ela, deixando-a ainda mais sensível.

Apenas por ter sido indicado em onze categorias e ser um ganhador de dois Oscars (o outro por Melhor Fotografia em Preto-E-Branco, uma exigência do diretor que queria assim manter o ar sombrio do livro), assistir Rebecca já seria uma obrigação a qualquer cinéfilo. Por se tratar de um Hitchcock, mais ainda! Se ainda não teve a oportunidade de vê-lo e gosta de um bom suspense, não perca tempo! Abaixo tem o link e o vídeo no Youtube! Espero que gostem!





http://www.youtube.com/watch?v=2oLtU9Sj8yo