terça-feira, 17 de setembro de 2013

Farrapo Humano (The Lost Weekend) - 1945

Um filme diferente dos que o mundo estava acostumado a ver até então. Tão forte e impactante que causou frisson tanto na indústria cinematográfica quanto na indústria de bebidas alcoólicas. Esse é Farrapo Humano, de Billy Wilder, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1946.

Ray Milland é Don Birnam, escritor que está para viajar com o irmão para um fim de semana prolongado no campo. Enquanto arruma as malas, seu único pensamento é a garrafa pendurada do lado de fora de sua janela. Don é um alcoólatra em recuperação, que há duas semanas (segundo o que pensa seu irmão, Wick (Phillip Terry)) não coloca uma gota na boca.

Sua noiva, Helen (Jane Wyman), chega para despedir-se e diz a Don que tirou o dia de folga e irá a um concerto sozinha. Querendo se livrar dos dois, Don acaba convencendo os dois a irem juntos ao concerto e deixarem para pegar o trem mais tarde. Desconfiado, Wick encontra a garrafa pendurada e joga seu líquido no ralo. Sozinho no apartamento, Don vasculha cada um de seus esconderijos, sem encontrar nada.

A diarista toca a campainha, e dá a Don a ideia que mudaria os planos de seu fim de semana: ela o diz onde o irmão costuma deixar o dinheiro da diária. Dispensando-a, o escritor sai em busca da única coisa que o satisfaz verdadeiramente: bebida. No bar, já bastante alterado, ele conta ao barman como será seu próximo livro: A Garrafa, um livro baseado em sua própria história, na história de como conheceu Helen.

Depois de seu irmão desistir dele, Don vai contar apenas com a boa vontade e o amor de sua noiva para ajudá-lo a superar o alcoolismo e seu bloqueio criativo. Mas antes, ele chegará ao fundo do poço, passando pelo roubo, pela piedade e pela loucura, sugado pela sua fraqueza e seu vício.

Farrapo Humano tem um enredo forte e bastante esclarecedor sobre o que se passa na mente de um viciado, seja ele em álcool, drogas, remédios, o que for. O personagem de Milland passa por todo tipo de situação constrangedora, perdendo muitas vezes não apenas a noção de moral como a noção de realidade. Porém, para ele, tudo é justificado pelo simples fato de não conseguir resistir ao vício.

As cenas muito bem dirigidas, às vezes beirando o desespero, renderam a Wilder o Oscar de Melhor Direção, e a Ray Milland o prêmio de Melhor Ator. Os roteiristas (Charles Brackett e Billy Wilder) ainda levaram o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, uma vez que o filme é baseado em um best seller. No livro, porém, Don é atormentado também por um trauma da adolescência, uma experiência homossexual, excluída do roteiro do filme.

Como eu disse no começo, a indústria de bebidas alcoólicas ficou preocupada com as repercussões do filme, e teriam oferecido à Paramount 5 milhões de dólares para que o filme não fosse lançado. Wilder declarou tempos depois que se tivessem oferecido a ele, ele teria aceitado.

Um filme forte, que virou citação em muitos outros filmes e séries, Farrapo Humano é um dos melhores filmes que eu já vi para esse projeto. Sem dúvida assisti-lo é um pré-requisito para qualquer cinéfilo.


2 comentários:

  1. Billy Wilder é mestre, e claro que amamos toda sua filmografia que é bem pequena. Este é um filme atemporal, aborda de forma chocante até onde o ser humano cai por conta de um vicio. É desesperador algumas situações em que ele se mete. Ray Milland é um dos atores que eu mais gosto, creio que não há um filme com ele que eu deixe de gostar. Extremamente talentoso. Também penso que é um dos melhores filmes que eu já vi que aborda de forma real a vida de um viciado no álcool. Parabéns por sua matéria, de forma clara e objetiva nos faz rever na mente todo o filme e ter a vontade de assistir de novo. :)

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  2. Esse filme.., ahh esse filme! É absurdamente fantástico, denso, real, e impactante! Faz tempo eu vi, mas algumas cenas não saem da minha mente. A interpretação de Ray Milland é visceral. E pensar que esse filme é de 1945; todavia, continua tão atual, como se tivesse sido filmado ontem! Ray Milland, que ator soberbo!!

    Parabéns amigo Tato! Sua resenha está incrível! Qualquer comentário acerca desse filme é insuficiente, por tratar-se de um clássico, uma obra-prima grandiosa!!

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